Quem me conhece, sabe que desde sempre sou defensora da obrigatoriedade da exigência do diploma em Jornalismo para exercício da profissão. Sempre entendi e respeitei, no entanto, a opinião contrária daqueles jornalistas que obtiveram seus registros em função dos anos de prática comprovada, mesmo sem a formação. Aliás, conheço alguns que, mesmo sem formação, defendem a exigência do diploma como forma de qualificar a atividade. Entendo, até certo ponto, aqueles jornalistas formados que acham dispensável o diploma, pois consideram que aprenderam mais no mercado que na faculdade.
Os primeiros eu entendo e respeito porque são pessoas que não tiveram oportunidade de frequentar a universidade ou o curso de Jornalismo e iniciaram sua vida profissional em outros tempos. Esses últimos, geralmente jovens que estão há pouco no mercado, eu até entendo, porque em geral são profissionais que relegam a importância da faculdade a segundo plano por pura ignorância. Não leve por ofensa se é o seu caso, mas se você não soube aproveitar a melhor oportunidade da sua vida para tentar fazer diferente do que fazem as empresas na prática jornalística e não entendeu o papel da universidade, será um operário da indústria da informação e não um profissional pensante. Se sua formação falhou em aspectos técnicos ou teóricos e foi o mercado que preencheu isso, seu problema é grande. Vai ser um mero reprodutor de modelos provavelmente sem argumentos contra seus chefes. Pode ser que, se você sempre concordar com eles, chegue longe na carreira. É claro que ser empregado não é o único caminho para ser jornalista, e cada vez mais existem grandes oportunidades para que o profissional seja empreendedor, sobretudo na web, mas sem formação esse caminho é mais difícil ainda.
Agora, quem eu não consigo entender, com todo o respeito que merecem, são os professores de Jornalismo que defendem que o diploma não deve mesmo ser obrigatório. Alguns até usam argumentos nobres, como a defesa de um jornalismo mais plural e tudo o mais, mas a sensação que eu tenho é que esses pesquisadores e docentes não conhecem a mesma realidade de aberrações que eu conheço quando o diploma é dispensado. Tenho conhecidos e amigos que trabalham com registro sem nunca ter frequentado a faculdade. Respeito aqueles que têm instinto de repórter, esforçam-se para escrever direitinho e tentam ser bons profissionais. O problema é que eles podem ser redatores, webdesigners, repórteres, mas a maioria nunca leu qualquer livro de jornalismo, não sabe nada sobre o papel social da imprensa, e não tem a menor ideia do porquê da adoção do lead nas matérias, só para falar do básico. Pelos artigos e mensagens que andei lendo dos professores que defendem a não obrigatoriedade do diploma em jornalismo, essa realidade que menciono não faz diferença. Talvez sejam profissionais que atuam em grandes centros, em que a maioria das empresas procura profissionais qualificados. Mas será que no interior, nas cidades menores, a população merece um jornalismo de pior qualidade? Quem sabe as empresas do interior passariam a procurar jornalistas graduados se houvesse maior fiscalização e incentivo?
Outro argumento é que vários países de primeiro mundo não exigem diploma em jornalismo e possuem um alto nível de produção jornalística. Mas será possível comparar nossa realidade com a desses países? Será que em Portugal, nos Estados Unidos ou na Espanha as empresas e a própria sociedade convivem bem com jornalistas que não conhecem a fundo a cultura, a história e as principais técnicas jornalísticas?
Não é preciso dizer que existem jornalistas formados que são medíocres aqui no Brasil, enquanto há outros sem formação que são muito melhores. Primeiro é preciso questionar os critérios do que seria um bom jornalismo. Mas esse argumento, de qualquer modo, é muito raso. Você seria a favor do exercício da medicina por pessoas talentosas, mas sem formação? Para não ficar no plano das ideias, trago aqui um exemplo que me deixa estarrecida e que nos dá pistas do tipo de consequência que ocorre quando o diploma de jornalismo deixa de ser o critério mínimo exigido para o exercício da profissão. Está no ar, registrado desde 2009 na internet brasileira, o site do tal “Sindicato Nacional dos Jornalistas”, o SINAJ, uma aberração estética, ética e de conteúdo. Fico imaginando que jornalista que tenha passado por uma universidade seria capaz de se filiar a essa entidade.
O nível com que se trata o jornalismo no site do autointitulado Sindicato Nacional dos Jornalistas |
Só de olhar o visual do site, já se tem uma ideia da qualidade da coisa. Poderia ser séria uma entidade que chama filiados oferecendo um curso “gratuito” de Jornalismo? Eles prometem que o certificado é válido em “todo o território nacional”. Não dá medo? Para receber a maravilha de curso, basta pagar um plano semestral de R$180,00 mais taxas.
O site do Sindicato Nacional dos Jornalistas: como isso pode estar online? |
O STF derrubou a exigência do diploma no dia 17 de junho... |
... dias depois foi obtido o CNPJ do Sindicato, presidido por um diretor de uma emissora. |
Recentemente, com a aprovação da PEC dos jornalistas no Senado, que integra à Constituição a regulamentação da profissão de jornalista, fomos chamados “as viúvas de Gutenberg”, como se estivéssemos, ao defender a formação como critério mínimo de qualidade, ultrapassados e fora de moda. Mas o retrocesso não seria justamente jogar o jornalismo na vala comum das atividades sem exigência de formação?
O presidente do Sinaj no destaque. Algum jornalista o reconhece como seu representante? |
Se a PEC for aprovada depois de cumprir todas as votações, então poderemos discutir como melhorar a formação dos jornalistas nas universidades e ajudar a construir uma mídia informativa mais plural, democrática e ética, deixando mais constrangidos os autores das aberrações que hoje andam por aí livremente.
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