sábado, 16 de abril de 2011

Mídia social ou mídia social digital

Durante o trabalho de dissertação, uma das questões que mais me perturbaram conceitualmente foi a noção de mídia social. Como tudo que está acontecendo na internet hoje é muito novo e cercado muito mais de dúvidas do que de certezas, não foi fácil encontrar uma base sólida de conceitos para me ancorar quando falava do twitter. 
Para quem não sabe, minha dissertação tem como título "Legitimação institucional do jornalismo informativo nas mídias sociais digitais: estratégias emergentes no conteúdo de Zero Hora no Twitter". Traduzindo do academiquês, minha proposta foi investigar as estratégias utilizadas por uma organização jornalística para se afirmar enquanto veículo de informação no ambiente das mídias digitais, e que acabam aparecendo no uso que ela faz do Twitter. 
Quis saber como se dá o tensionamento entre a lógica informativa (que é massiva, de transmissão) do jornalismo tradicional e a lógica descentralizada e não linear das mídias sociais, que delimitei como "mídias sociais digitais". Utilizei esta denominação, com o "digital", pois toda mídia, ou todo meio de comunicação, por essência, deveria ser "social". A diferença é que agora temos mídias sociais específicas da plataforma digital, e que possuem peculiaridades próprias desse ambiente digital, como é o caso das possibilidades de que a informação seja compartilhada, participativa, conversacional, em oposição ao caráter transmissionista da mídia de massa.


Assim, para mim, a mídia social digital é um fenômeno novo, típico da internet, que encontrou um terreno fértil a partir das possibilidades da web 2.0, quando o usuário passa a ser também produtor de conteúdo, autor, protagonista. Concordo com a Raquel Recuero quando ela diz que a mídia social já estava de algum modo presente nos primórdios da internet, com os fóruns, os ICQs da vida, as fanzines... No entanto, só hoje (de alguns poucos anos para cá) e com cada vez mais força a internet passa a ser muito mais dinâmica e plural, dependendo do interagente (usuário com poder ativo nas redes) para existir e continuar crescendo. 
E só nesta ambiência tecnossocial (tecnologia e sua apropriação pela sociedade) foi possível à mídia social se desenvolver; portanto, não acredito que tivéssemos mídia social antes de haver a mídia digital como a conhecemos hoje. Nos primórdios da internet, tínhamos possibilidade de comunicação em rede, poderíamos pensar em termos de redes sociais online, mas tínhamos mídia, no sentido de meio de comunicação, com um caráter social? Creio que não. Por mais que houvessem projetos e iniciativas de ruptura ao modelo massivo da mídia analógica, o alcance nunca foi além de pequenos grupos, sem querer menosprezar o valor histórico de qualquer projeto contracultural. Iniciativas assim podem ter dado a base, revelando um desejo latente das pessoas de fazer parte da cena midiática sem necessidade da mediação das grandes marcas jornalísticas, mas não creio que pudessem ser caracterizadas como mídia.
Hoje, um indivíduo, grupo, associação, organização etc pode passar a ser ouvido (a) pelo seu público e pela sociedade de um modo geral através de canais próprios na internet sem precisar passar pelo filtro editorial dos jornais e emissoras. Vide o exemplo do blog da Petrobrás, que criou tanta polêmica com os jornalistas e que foi bem visto pela maioria do público. Trata-se de uma organização que se faz presente na cena midiática por conta própria. Aí vejo a grande diferença.
Obviamente, as empresas, sejam elas informativas ou de qualquer outra natureza, procuram esses espaços conversacionais da mídia social digital, hoje, buscando valores que elas estavam acostumadas a buscar quando investiam na mídia tradicional. No entanto, como a lógica é outra, focada no relacionamento, no vínculo com o público, no engajamento, a organização rapidamente percebe que estar presente no meio digital não basta. É preciso um conjunto de estratégias que levem em conta a complexidade deste novo terreno. E este é um longo caminho que exige pesquisa, estudo e muita paciência...

Em breve, novos posts em que trarei alguns elementos e resultados da minha dissertação.


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